quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Escolhido


O Senhor não Se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos. Deuteronômio 7:7
No verso anterior ao texto escolhido para hoje, o Senhor chama Israel de “povo santo para o Senhor, o seu Deus”. Entre todos os povos da face da Terra, Ele escolheu as doze tribos de Israel para serem “o Seu povo, o Seu tesouro pessoal” (Dt 7:6).
A percepção de ser o escolhido de Deus é uma faca de dois gumes. Inspira confiança e o senso de profundo valor próprio, mas também pode originar orgulho, senso de superioridade e arrogância.
Ao designar o povo de Israel como o Seu escolhido, Deus, por meio de Moisés, deixou bem claro que não havia nada de especial no povo que levasse Deus a tomar essa decisão. Não eram mais numerosos, nem mais poderosos ou mais obedientes do que os outros povos. Na verdade, eram menos numerosos do que os outros e na maioria das vezes mais teimosos, desobedientes e rebeldes.
Mesmo assim, Deus os escolheu. Por quê? Por Sua própria vontade, Ele simplesmente escolheu um material pouco promissor e disse: “Vocês são Meus, um povo especial que Eu separei para cumprir os Meus propósitos.”
A escolha de Deus foi um ato de pura graça. E ainda é. Como seguidores de Jesus Cristo, somos hoje os escolhidos de Deus. “Vocês não Me escolheram, mas Eu os escolhi para irem e darem fruto, fruto que permaneça”, disse Ele (Jo 15:16). Pedro afirmou: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus” (1Pe 2:9).
Escolhidos. Que conceito! Somos especiais para Deus! Enfrentemos esse novo dia com a cabeça erguida, ombros para trás, passos saltitantes e com louvores a Deus em nossos lábios.
Oremos para que o Senhor nos guarde do orgulho e do senso de superioridade. Deus não nos escolheu porque somos melhores, superiores ou mais úteis para Ele. Não temos nada, absolutamente nada, que mereça o favor divino. O Senhor nos escolheu porque ama conceder dádivas liberalmente, pegar materiais pouco promissores e utilizá-los para cumprir Seus propósitos. Isso é graça.
O fato de sermos escolhidos coloca sobre nós uma responsabilidade: Ele nos escolheu para “darmos frutos”, para fazermos a Sua vontade, para cumprirmos o Seu plano – proclamar ao mundo que o Salvador veio e voltará.
Proclame ao mundo: Deus deseja que todos façam parte de Seu povo escolhido.

Bom dia a todos..

JCabral

terça-feira, 29 de maio de 2012

Tríplice História de Amor


Rute, porém, respondeu: “Não insistas comigo que te deixe e que não mais te acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus! Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me castigue com todo o rigor, se outra coisa que não a morte me separar de ti!” Rute 1:16, 17
O livro de Rute é uma joia preciosa. Localizado entre as histórias sanguinárias do livro de Juízes e a saga de Samuel, Saul e Davi no livro de 1 Samuel, o livro de Rute é uma obra-prima literária e espiritual. Além disso, também é uma tríplice história de amor.
A primeira história de amor é altamente incomum: o profundo amor de uma jovem nora por sua sogra. Noemi, destituída do marido e dos filhos numa terra estrangeira, decidiu voltar para sua terra natal. “Noemi” significa “agradável”, mas estava voltando como “Mara”, que significa “amarga”. Ela não tinha nada a oferecer para as noras viúvas, Orfa e Rute; nem moradia, riquezas ou um possível casamento. Noemi não dispunha de absolutamente nada e não tinha ninguém por ela.
“Voltem para o povo de vocês”, a sogra aconselhou Orfa e Rute. Orfa aceitou o conselho, mas Rute se recusou a deixá-la. Amava demais Noemi para abandoná-la. Decidiu que seguiria a sogra para onde a jornada da vida a levasse. Seguiria Noemi até a morte.
Isso é amor puro e verdadeiro; amor abnegado e fiel; amor desinteressado em bens materiais; amor extraordinário. Um amor assim tem sua origem no Céu.
A segunda história de amor também possui um toque incomum. Envolve um homem e uma mulher. Nada incomum nisso, exceto que os dois são o fruto de contextos totalmente diferentes um do outro. Boaz é bem mais velho, rico e israelita. Rute é jovem, viúva, pobre e moabita. Às vezes os opostos se atraem; esse foi o caso.
Mas há mais detalhes nessa história. Boaz era parente próximo de Elimeleque, marido falecido de Noemi. De acordo com a lei mosaica, Boaz tinha o direito e a responsabilidade de comprar de volta a propriedade de Elimeleque e também se casar com a nora viúva sem filhos (nesse caso, Rute). Boaz se tornou não apenas seu amado e marido, mas também seu protetor e libertador.
Isso nos leva à terceira história de amor. A palavra hebraica traduzida como “parente” se origina da mesma raiz que significa “redimir”. Boaz, por sua posição e ações, apontou para Jesus, nosso parente próximo que nos redimiu. Não tínhamos nada a oferecer, apenas nossa grande necessidade. Mas Ele nos acolheu, uniu-nos a Ele, para que vivêssemos ao Seu lado para sempre.



quinta-feira, 17 de maio de 2012

Contando os Nossos Dias


Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria. Salmo 90:12


O Salmo 90, que carrega o título “Oração de Moisés, homem de Deus”, contrasta a brevidade da vida humana com a eternidade de Deus. As cadências magníficas e harmoniosas desse salmo ampliam nossa visão, convidando-nos a olhar além dos valores temporais e transitórios para aqueles que são realmente importantes, hoje e para sempre.
“Senhor, Tu és o nosso refúgio, sempre, de geração em geração” (v. 1). Que pensamento maravilhoso! Deus, o imutável, nosso refúgio. O que mais o tempo ou a eternidade poderia oferecer?
Será que Deus é o meu refúgio?
O salmo continua ressaltando a fugacidade da existência humana. Breve como o sono (v. 5), como a relva que germina e brota pela manhã, e à tarde não existe mais, murcha e seca (v. 6). Nossos dias passam como um murmúrio (v. 9); o melhor que podemos esperar é 70 ou (se tivermos sorte) 80 anos (v. 10). Seja curta ou aparentemente mais longa, nossa vida “passa depressa, e nós voamos” (v. 10).
Em seguida, vem a advertência, tão atual quanto a notícia mais recente da internet: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que nosso coração alcance sabedoria” (v. 12). O que significa contar os nossos dias? É perceber o valor supremo de cada nova manhã, de cada momento que passa. Perceber que não sabemos quantas manhãs mais teremos pela frente – na verdade, se teremos mais alguma – e decidir viver a vida em sua plenitude, dedicando tudo o que fizermos para a glória do Criador e valorizando as pessoas ao nosso redor.
A vida é preciosa. O tempo é muito precioso. A eternidade revela sua preciosidade. Temos um Céu a conquistar e a destruição a evitar. A vida está repleta de significado, de propósito.
Esta linda oração expressa a graça: “Tem compaixão dos Teus servos! Satisfaze-nos pela manhã com o Teu amor leal, e todos os nossos dias cantaremos felizes” (v. 13, 14). E ela termina assim: “Esteja sobre nós a bondade do nosso Deus Soberano. Consolida, para nós, a obra de nossas mãos!” (v. 17).
 Amém!
Faze isso hoje, Senhor!

JCabral









sexta-feira, 11 de maio de 2012

Mãe minha heroína..

 Dona Lourdes..

Mãe, só posso agradecer-lhe Pela vida que me deu Seu carinho, bondade e zelo Norteiam os atos meus.
A dedicação, dia após dia A sabedoria e o sorriso Aplacando a minha dor Foram gestos supremos De mostrar o seu amor.
Nessa longa caminhada, lado a lado sem parar É você doce heroína Que eu quero homenagear.
Esses olhos tão bondosos Escondendo a dor sofrida É parte dos dias meus É o incentivo pra vida.
E você, doce heroína, Com astúcia e ternura Adubando os sonhos meus Fez da vida o caminho E para ela me fortaleceu.
por mais que precisasse De um ombro pra chorar, Nunca me negou o seu Quando me punha a clamar.
Você é a paz serena Que gorjeia ao meu redor Dando-me a segurança Que preciso pra chegar.
É o meu firme alicerce Mulher de fibra e valor É o pedaço de chão que me apoio sem temor.
Quero dizer ao mundo Que hoje, sou por você Sua raça, brio e valor Ensinaram-me a viver.
Obrigada doce heroína Por tudo que por mim fez E oxalá eu possa ser Um pouquinho de você!

Feliz dia das mães..

JCabral

Observando Atentamente

Sem dizer nada, o homem a observava atentamente para saber se o Senhor tinha ou não coroado de êxito a sua missão. Gênesis 24:21

Você já se sentiu como o homem dessa história, vibrando de entusiasmo, mal conseguindo respirar, enquanto observa a resposta de sua oração fervorosa desabrochar como uma vitória-régia diante de seus olhos?
Ele tinha vindo de muito longe, o servo de confiança de Abraão. Percorrera o longo caminho de Canaã até o noroeste da Mesopotâmia montado num camelo. Certamente, esse não é o meio mais rápido nem o mais confortável de viajar, mas era o melhor disponível na época. Seu senhor lhe havia imposto uma árdua tarefa: “[Você] irá à minha terra e buscará entre os meus parentes uma mulher para meu filho Isaque” (Gn 24:4).
Como você se sentiria se recebesse uma missão como esta: ir para uma terra distante e escolher uma esposa para o meu filho, ou um marido para a minha filha? Onde começaria a procurar? E se encontrasse uma jovem preparada para levar a sério a proposta feita por um estranho vindo de uma terra distante, como a convenceria a deixar sua casa e os entes queridos para se aventurar numa longa viagem e se unir em casamento com alguém que nunca tinha visto? Aos nossos olhos, a missão inteira parece repleta de riscos e incertezas, realmente um tiro no escuro. Compreendendo isso, o servo perguntou ao seu senhor: “E se a mulher não quiser vir comigo a esta terra?
Devo então levar teu filho de volta à terra de onde vieste?” (v. 5). A essa pergunta, o servo recebeu um “não” como resposta.
Assim, partiu, levando consigo 10 camelos carregados de presentes. Após várias semanas de viagem, o servo chegou à cidade de Naor, que provavelmente tivesse recebido esse nome em memória ao irmão de Abraão. Naquele fim de tarde, o servo e os camelos estavam cansados e com muita sede. O servo começou a orar. Pediu a Deus que coroasse sua missão com êxito naquele mesmo dia. O servo estava ao lado de uma fonte de água e orou pedindo que entre as mulheres que viessem da cidade para buscar água estivesse a escolhida. Ela deveria dar água para ele e os camelos.
As palavras mal lhe saíram da boca quando Rebeca apareceu, com o cântaro sobre os ombros. O servo observou curioso a bela jovem e, sem perder tempo, pediu-lhe água. A jovem trouxe água para o servo, depois para os camelos, enquanto o servo olhava atentamente, admirado diante da resposta à sua oração.
Espera no Senhor confia nele e ele fará o desejo do teu coração..

Tenham uma boa sexta e um excelente final de Semana..

Prof JCabral

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Demóstenes Torres: A República está órfã

É provável que o senador goiano esteja politicamente morto – mas o país que ele defendia continua vivo, apesar de órfão


“Apaguemos a lanterna de Diógenes: achei um homem” – diria Machado de Assis se pudesse testemunhar o discurso de Demóstenes Torres no Senado, no dia 21 de junho de 2011. Naquela data, o senador goiano usou a tribuna para denunciar a doutrinação nos livros didáticos e paradidáticos distribuídos pelo MEC nas escolas públicas do país. Num misto de ironia e indignação, Demóstenes fez desfilar diante de senadores atônitos o verdadeiro circo de horrores em que se tornou o ensino brasileiro. Ainda que algumas de suas denúncias não fossem inéditas, pois já haviam saído na imprensa, aquela foi a primeira vez em que o descalabro cognitivo e moral dos livros didáticos foi sintetizado – com inteligência e coragem – por uma autoridade da República.
Num feito provavelmente inédito na história recente do Brasil, o senador goiano dedicou mais de 21 minutos de seu tempo como orador, sem contar os apartes dos colegas, para dissecar um tema que jamais interessa aos políticos comuns: os aspectos didático-pedagógicos da educação. Fazendo da tribuna uma cátedra e do seu mandato um magistério, Demóstenes Torres alertou a nação quanto ao próprio destino do país, que está sendo destruído em seus alicerces – as salas de aula do ensino básico. Enquanto a maioria dos políticos só consegue ver a escola pelo prisma da construção de prédios e distribuição de merenda, incapazes que são de enxergar a humanidade de professores e alunos, Demóstenes, usando a tribuna do Senado, demonstrou compreender a educação como a paideia da Antiga Grécia – um processo civilizatório que edifica o próprio homem.
Em seu memorável discurso, o senador goiano denunciou o caso de um livro didático que negligenciou vultos históricos como D. João VI, Olavo Bilac e Juscelino Kubitschek para dedicar duas páginas à transexual Roberta Close, sobre a qual o aluno é convidado a responder oito perguntas, devendo saber, entre outras coisas, o que ela fez após mudar de sexo. Chamou a atenção também para a descarada transformação da história em mero panfleto dos movimentos sociais, especialmente os mais predadores, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST. E sobretudo denunciou a verdadeira pornografia travestida de educação sexual que conta a alunos de escola historinhas de meninas de 10 anos que fazem sexo oral em velhos, gemendo palavras de prazer, e mostra o estupro de uma professora, insinuando que a vítima gostou da violência.

Bomba nas bibliotecas
“Realmente, é o fundo do poço ou será que o Governo alcança absurdo maior do que distribuir nas escolas um livro em que o mestre é achincalhado e uma professora é estuprada? Nesses tempos de violência em colégios, o Governo faz campanha pelo desarmamento, mas não tira as bombas das prateleiras das bibliotecas” – discursou Demóstenes Torres. A denúncia do senador goiano – calcada na leitura literal de trechos das obras analisadas – causou espanto em plenário. Em aparte, o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) contou ter comentado com o colega Pedro Taques (PDT-MT) que era até difícil acreditar que pudesse existir um conteúdo didático como o que o parlamentar goiano denunciava em plenário. “Fico imaginando um pai de aluno ao ler isso. Qual seria a reação de um pai, de uma mãe? É uma coisa que chega a chocar”, afirmou o senador sul-mato-grossense, ressaltando a importância da denúncia feita pelo senador goiano.
Demóstenes Torres enfatizou que, ao folhear alguns dos livros comprados pelo governo federal, a impressão que se tem é que, “dentro de pouco tempo, chegarão às bibliotecas públicas as revistas e os filmes de sexo explícito”. O senador foi taxativo: “Se o órgão responsável pela educação não se choca com cenas de estupro e menina de seis anos ser chamada de ‘vagabundinha’, como no livro Teresa, as coleções em quadrinhos (bons chamarizes para crianças), também carregam forte conteúdo erótico, com desenhos de casais nus na cama, fazendo sexo encostados na parede, violência sexual contra a mulher, além de cigarro e cachimbo. Todos esses livros têm na capa o carimbo do MEC” – denunciou. O senador lembrou, ainda, que “as comissões que aprovaram as compras desses livros são as mesmas que criaram problemas com Monteiro Lobato, tachando-o de racista”.
O discurso de Demóstenes Torres denunciando a doutrinação nos livros didáticos teve boa repercussão nas redes sociais (duas cópias no You Tube somam mais de 46 mil exibições), mas o tema jamais mereceu a devida atenção da grande imprensa, que se limita a registrar as denúncias do gênero, valendo-se do disse-que-disse das fontes, sem ousar uma análise mais profunda dos fatos. E a razão é uma só: as universidades, que deveriam fornecer os textos críticos sobre a questão, são também responsáveis pelo descalabro moral e cognitivo do ensino brasileiro e não hesitam em mascarar em forma de argumentos científicos as meras palavras de ordem com que defendem conteúdos didáticos como aqueles que foram denunciados pelo senador Demóstenes Torres. Ouso dizer que essa talvez seja a forma mais grave de corrupção: a corrupção dos políticos assalta o bolso – a dos intelectuais mata a alma.

De herói a vilão
Ao contrário do que se possa pensar, a frase que fecha o último parágrafo não foi engendrada agora, em defesa do senador Demóstenes Torres: eu a escrevi há mais de seis anos para defender o tesoureiro Delúbio Soares dos ataques da filósofa Marilena Chauí na época do mensalão, que levou à queda do ministro José Dirceu, no segundo grande escândalo da Era Lula – o primeiro foi protagonizado justamente pelo bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que agora divide o palco da corrupção com o senador Demóstenes Torres. Marilena Chauí era contra a expulsão de José Dirceu do PT, mas queria satanizar Delúbio Soares: “É inaceitável a expulsão de um quadro partidário por causa de suas convicções políticas. Mas o caso de Delúbio é diferente, é um caso de delinqüência. Mesmo que você diga que a iniciativa não é dele” – declarou a filósofa da USP em entrevista à revista Caros Amigos, publicada em novembro de 2005.
Como se vê, numa guerra, a filósofa Marilena Chauí puniria o soldado, que cumpre ordens, e livraria a cara do general, que manda e desmanda. Foi essa lógica esconsa das universidades (que, como ensinava Durkheim, tem graves implicações morais) a verdadeira tábua de salvação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem esse decisivo apoio dos formadores de opinião, capitaneados pelos intelectuais universitários, inclusive os pusilânimes intelectuais tucanos, Lula não teria terminado o mandato. Na época, o PT foi colhido por um turbilhão de denúncias que iam da ação de lobistas nas vizinhanças do gabinete presidencial até a confissão do publicitário Duda Mendonça de que recebera parte do pagamento pela campanha eleitoral de Lula por meio de depósitos clandestinos numa conta secreta no exterior. Contra Lula não faltou nem mesmo um Pedro Collor em dose dupla: os irmãos Bruno Daniel e João Francisco Daniel, que acusam a cúpula petista de tentar acobertar o caráter político do assassinato de Celso Daniel, prefeito de Santo André, que segundo eles, era caixa de campanha do PT nacional.
É justamente o apoio dos formadores de opinião que vai faltar a Demóstenes Torres, agora que o senador goiano, em menos de um mês, viu sua imagem pública ruir. Cumprindo seu segundo mandato no Senado, Demóstenes se tornou um dos maiores líderes nacionais da oposição, visto como uma espécie de reserva moral do país, dotado de coragem política e conhecimento jurídico. Desde sua primeira eleição para o Senado em 2002, o parlamentar goiano se destacou como expressivo líder nacional, tornando-se uma presença frequente na grande imprensa, apesar de oriundo de um Estado com pouca visibilidade política e mediana importância econômica. Mas, nas últimas semanas, Demóstenes passou de herói da oposição a vilão nacional, ocupando as manchetes dos principais veículos de comunicação do país. Pelas declarações de seus próprios colegas de partido, o DEM, e de vários senadores que o apoiaram no momento inicial das denúncias, é quase certo que o senador goiano será cassado.

Investigações seletivas
Tudo começou há cerca de um mês, quando vazaram na imprensa informações confidenciais da Polícia Federal associando Demóstenes Torres ao empresário Carlos Augusto Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo e apontado pelo Ministério Público Federal como chefe da “máfia dos jogos”. A princípio, o Brasil ficou sabendo que o senador goiano recebera de Carlinhos Cachoeira, como presente de casamento, uma cozinha completa e que ambos conversaram quase 300 vezes ao telefone. Em 6 de março, Demóstenes subiu à tribuna do Senado e se defendeu, invocando a amizade entre sua esposa e a do contraventor para justificar as ligações telefônicas e o presente de casamento. Cerca de 40 senadores de vários partidos, inclusive do PT, solidarizaram-se com o senador goiano, enaltecendo sua biografia e externando total confiança em seus esclarecimentos.
Mas o calmante durou pouco. Em conta-gotas, novas denúncias foram vazando sobre a reputação de Demóstenes, começando pela revelação de que o senador recebeu um dos 15 aparelhos de rádio habilitados nos Estados Unidos pelo contraventor para escapar do monitoramento da polícia. As conversas telefônicas também mostram que Demóstenes pediu a Cachoeira o pagamento de uma despesa de R$ 3 mil reais com táxi aéreo e ganhou um iPad do contraventor. Em seguida, surgiram especulações na revista Carta Capital de que o senador seria sócio de Cachoeira, recebendo 30% de toda a verba arrecadada nas atividades de contravenção. Diante dessa sucessão de denúncias, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 27 de março, a instauração de inquérito para a investigar Demóstenes Torres e os deputados federais goianos Sandes Júnior (PP) e Carlos Alberto Leréia (PSDB), que também teriam ligações com o bicheiro.
A partir daí, a derrocada política de Demóstenes Torres se tornou irreversível. No mesmo dia em que passou a ser alvo da Procuradoria Geral da República, ele renunciou à liderança do DEM no Senado e, em 28 de março, o Jornal Nacional, da Rede Globo, com base nas gravações da Polícia Federal, revelou que o senador pode ter recebido mais de R$ 3 milhões de reais de Carlinhos Cachoeira, em troca não apenas de defender os interesses do contraventor, como lobista, mas até mesmo de prospectar novos negócios para o empresário, como se fora seu sócio. Diante dessa profusão de denúncias e do pedido da Procuradoria Geral da República, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou, em 29 de março, a quebra do sigilo bancário de Demóstenes Torres. Foi a pá de cal na trajetória política do senador goiano. O DEM ameaçou expulsá-lo e, numa tentativa de evitar a perda de seus direitos políticos, Demóstenes decidiu se antecipar e pedir sua desfiliação do partido.

Os dois Demóstenes
Desde então, Demóstenes Torres optou pelo silêncio. Suas últimas aparições foram virtuais e burocráticas, através de notas no Twitter, alegando inocência, e por meio dos comunicados em que abdicou da liderança do DEM no Senado e se desligou do partido. Na quarta-feira, 4, cumpriu, também burocraticamente, o preenchimento de seu espaço, como colunista, no blog do jornalista Ricardo Noblat, do jornal O Globo. No artigo, Demóstenes não se defende das acusações, preferindo criticar o pacote do governo Dilma para as indústrias. Sobre as denúncias, quem fala é seu advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que, segundo um perfil traçado por Daniela Pinheiro na revista Piauí, em novembro último, já foi advogado de dois presidentes (José Sarney e Itamar Franco), um vice e 40 governadores, além de cinco presidentes de partido, dezenas de parlamentares, ministros de vários governos e grandes empreiteiras. Já o advogado de Carlinhos Cachoeira é o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos.
A facilidade com que os advogados brasileiros transitam entre o público e o privado, podendo passar facilmente de ministro da Justiça a advogado de contraventor, ou vice-versa, já demonstra que há algo errado com a República brasileira. E o caso de Demóstenes Torres é ilustrativo dessa realidade. Parte das denúncias de que é alvo decorre da própria natureza do Estado brasileiro, que, devido ao seu gigantismo, é inevitavelmente corrupto. Carlinhos Cachoeira não é o único dublê de empresário bem-sucedido e contraventor suprapartidário. Todos os casos de corrupção que já vieram a público até agora sempre tiveram figuras parecidas e muitas outras vão continuar escondidas nos bastidores do poder, sem jamais serem descobertas. O que mais espanta no caso de Demóstenes Torres não é o fato de ele ter defendido interesses de grupos (algo comum e inevitável nesse Brasil cartorial), mas a desenvoltura com que fazia o papel de lobista, ao mesmo tempo em que combatia com veemência a corrupção – a meu ver, o aspecto menos positivo de sua atuação política.
O Demóstenes em quem votei duas vezes para o Senado – e não me arrependo de tê-lo feito – não era o que relatou a inútil “Lei da Ficha Limpa”, mas o Demóstenes do discurso contra a doutrinação nos livros didáticos; do combate à política de cotas raciais; das críticas à total frouxidão das prisões brasileiras. Ao defender, com inteligência, essas causas, Demóstenes abria uma perspectiva para que o majoritário Brasil da realidade se fizesse representar no Parlamento – hoje, cada vez mais refém do ilusório Brasil dos acadêmicos. Incapaz de enfrentar a utopia do “outro mundo possível” criada nas universidades e disseminada nos veículos de comunicação, o Congresso Nacional não se cansa de anarquizar os costumes através de leis que oprimem o homem comum, ao mesmo tempo que criam benesses para as minorias de estimação da esquerda, que vão dos viciados em crack aos anarquistas da bicicleta, passando por gays e feministas, para ficar em alguns exemplos.

O erro do DEM
Talvez pelo fato de ser oriundo do Ministério Público, Demóstenes Torres era um dos raros políticos em condições de enfrentar a hegemonia do pensamento de esquerda e foi, sobretudo, dessa forma que conseguiu se destacar no plano nacional. Por isso, é importante que as bandeiras empunhadas publicamente por Demóstenes não acompanhem o seu féretro político. Infelizmente, o DEM não é capaz de perceber isso e seus líderes só estão preocupados em salvar a própria pele. Desde o final do governo Fernando Henrique, o partido vem se esvaindo em erros e escândalos, começando pela desastrada troca de nome. Agora, repete o mesmo erro, antecipando a entrega dos dedos antes mesmo que os anéis lhe sejam cobrados. O DEM se apressou a condenar Demóstenes antes mesmo do PT, sob a velha alegação de que não aceita corruptos e corta na própria carne. Ora, a ser assim, o partido deveria escolher melhor seus filiados, ou em breve não terá nem ossos.
Para os formadores de opinião, o DEM será sempre sinônimo de corrupção e atraso, por mais que o partido expurgue os seus corruptos, seguindo um caminho oposto ao adotado pelo PT. E isso não vai mudar, ainda que o senador Agripino Maia (DEM-RN), repetindo o próprio Demóstenes, insista em posar de vestal, antecipando-se ao dedo acusador dos adversários. O senador goiano se comportou de modo indefensável, sem dúvida, mas o DEM precisa pensar também na sobrevivência da oposição e das instituições, sem as quais ele próprio estará morto, entregando cabeça após cabeça e, mesmo assim, vendo sua imagem chafurdar mais e mais na lama. Não adianta antecipar a entrega da cabeça de Demóstenes sem que o partido cumpra seu papel de oposição, exigindo que se apure o caráter um tanto seletivo do vazamento das investigações da Polícia Federal, numa ameaça à própria liberdade de imprensa, como mostra o cerco que vem sendo armado contra a revista Veja, acusada de ser cúmplice de Carlinhos Cachoeira.
E o que é mais importante: não se pode deixar que as bandeiras do Demóstenes público sejam confundidas com as atitudes do Demóstenes subterrâneo. O fato de Demóstenes Torres parecer um despachante de Carlinhos Cachoeira nas fitas da Polícia Federal não faz com que se torne mentirosa sua grave denúncia a respeito da doutrinação nos livros didáticos, por exemplo. Seu discurso relativamente conservador, mas de uma moderna contundência, poderia ter contribuído para curar a política brasileira de sua mais grave anomalia – a ausência de uma corrente entre liberal e conservadora, que aposte na legalidade, nas instituições e no indivíduo, dando voz à maioria dos brasileiros, que querem apenas cuidar da vida e não militar por uma causa. Demóstenes Torres representava esse “Brasil profundo”, do homem comum, subjugado pelas leis, mas se deixou engolfar por outras profundezas, a dos homens que se julgam acima delas. Por isso, acendamos, outra vez, a lanterna de Diógenes: perdeu-se um homem – mas é preciso recuperar, com urgência, suas bandeiras.

Jornalista: José Maria e Silva

Fonte: http://palavracesa.blogspot.com.br/